Wednesday, April 27

“ O Xangô de Baker Street” (2001) de Miguel Faria Jr.



Este filme é adaptado do livro homónimo de Jô Soares que também tem um papel secundário no filme. O título é sem dúvida sugestivo, para qualquer pessoa que tenha o mínimo de conhecimento em policiais sabe que Baker Street é a rua em que mora o ilustríssimo e algo frenético, Sherlock Holmes, o detective imortalizado por Sir Arthur Conan Doyle nas “Aventuras de Sherlock Holmes”, famoso este pelo seu método racional dedutivo e pela frase dirigida ao seu companheiro de aventuras “- Elementar, meu caro Watson”.
O filme situa-se na época do imperador D. Pedro II, mais exactamente em 1886 no Rio de Janeiro, Brasil. Por retractar também uma época e consequentemente a sua sociedade temos algumas personagens bem conhecidas da realidade como Chiquinha Gongaza, Olavo Bilac, José do Patrocínio, entre outros. O motivo pelo qual o famoso Holmes aparece nos trópicos é simples: para resolver o caso do roubo do Stradivarius da Baronesa que o tinha recebido do próprio D. Pedro II. No entanto, a presença do detective serve para encontrar um assassino de mulheres que deixa como rasto uma corda de violino, cuja falta de competência da polícia local nada sabe fazer.
Este filme é multilíngue, há francês, inglês e português à mistura e isso dá-lhe um certo quê de graça. Temos um Sherlock Holmes interpretado pelo nosso Joaquim de Almeida, este curiosamente também fala o português, devido a uma estadia em Macau do próprio Holmes em que este esteve com o famoso cientista português Nicolau Travessa e daí ter aprendido com perfeição a língua. Talvez haja nesta versão um detective menos fiel à obra e há falta de algumas das suas características base, mas penso que o objectivo também não era esse. A nossa também Maria de Medeiros interpreta uma actriz francesa (“Sarah Bernhardt”) e sem dúvida representa bem a classe, sem falar na referência à sociedade oca e fútil que tenta copiar a europeia a todo o custo.
Achei o filme muito engraçado, também não é todos os dias que ouvimos os brasileiros a falar francês e inglês...fora de brincadeiras a película é leve, divertida e interessante, e com algum crime à mistura. Devo dizer que o Dr. Watson é hilariante e mesmo que seja notório o assassino, o espectador não fica desiludido, até porque conhecendo o mito, a descoberta seria improvável e penso que o mistério ainda continua por se resolver. É juntar o mito à lenda e temos este filme digno de ver e ouvir.

Curiosidade:
Xangô: Deus da justiça e do trovão. Patrono da política, diplomacia, sedução e articulação. Senhor da vida, é o grande Rei dentre os orixás. Iansã, Obá e Oxum são suas esposas. Xangô controla o fogo, porém seu poder só tem efeito se praticado junto com Iansã, de quem Xangô não pode se separar.

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