Sunday, September 3

“Miami Vice” de Michael Mann


Miami Vice é sem dúvida o filme do ano, embora nem toda a gente tenha a capacidade de o reconhecer. Apesar do título sugerir uma adaptação fiel à série famosa dos anos 80, o filme é bem mais actual que isso. Miami Vice conta uma história realista, das muitas que poderiam acontecer a dois detectives infiltrados de Miami. O espectador consegue perfeitamente absorver toda a adrenalina e energia, toda a introspecção a que são sujeitos os personagens, não fosse o filme rodado por Michael Mann, mestre nas cenas de acção e nas cenas absolutamente deliciosas em que o personagem pára e como ele tudo à sua volta. A realização é fantástica e com a utilização das câmaras de TV, com o grão característico, confere ao filme uma intensidade e realidade pouco comum nos filmes actuais. Jamie Foxx sobressai-se mais que Colin Farrel, apesar deste viver um romance intenso no qual Gong Li é soberba. Apesar das cenas de acção serem poucas as ao longo do filme, elas entranham no espectador e é difícil sair indiferente a este filme. Era bom que houvessem mais realizadores assim.

2 comments:

Corto Malteser said...

:D

Corto Malteser said...

Era difícil pedir em 2006 um filme baseado na excelente série dos anos 80 (da qual gostei muito…), quando o mundo em que vivemos já perdeu de todo a inocência (o mundo das imagens digo, porque não presumo que o mundo real fosse mais inocente há vinte anos). E assim os nostálgicos juntaram-se aos fãs do blockbuster e juntos passaram ao lado de um dos melhores filmes do ano. O filme engana, grande produção, actores em pico de fama, tema viril, o que conduz naturalmente à desinformação: Michael Mann teve o privilégio de fazer um filme de autor com grande orçamento (privilégio muito raro), e não fosse o filme ter-se safado na bilheteira, provavelmente seria o seu último (ficamos a aguardar mais notícias). Desta forma pudemos assistir a um filme que aposta num tom realista, intimista, centrado nas personagens, por si só suficiente… e ainda por cima com grande produção, actores em pico de fama e tema viril; é de certa forma o melhor de dois mundos. Michael Mann teve a capacidade de arriscar em várias frentes. Tecnicamente é um pioneiro, usando com mestria as câmaras digitais, leva-nos onde a película nunca entrou, seja na escuridão dos interiores, seja na noite filmada como ela é, e com ele as cidades ganham ambiente e dimensão nunca vistos (em Collateral, o filme anterior e o primeiro da experiência digital, Los Angeles ganhou finalmente uma identidade; em Miami a cidade divide atenção com os interiores e restantes locais da acção, pelo que o pulso da cidade nos escapa, um dos poucos pontos fracos do filme). Depois arrisca na construção do ambiente, com diálogos secos e errantes e personagens em fuga que param para olhar o horizonte onde uma tempestade está sempre em aproximação, o céu opressivo tem laranjas e relâmpagos, a casa tropical treme ao sabor do vento, o paraíso afinal não é azul das caraíbas. Por fim, o filme tem Michael Mann, mestre da acção. Apenas duas cenas verdadeiramente do género, a primeira é já a meio do filme em que 1 bala vale 10 minutos de antologia. Parece pouco não fosse o filme um contínuo em ritmo fabuloso, como se comprova logo de início. Somos introduzidos a um clube movimentado, a equipa em perseguição do bandido de serviço, crescente de antecipação, a qualquer momento virá a explosão de acção inicial, mas de repente passaram 15 minutos e Michael Mann já fez 3 ou 4 coisas mal, o genérico ainda não saltou, a perseguição está em stand by, e aqueles tipos estão num telhado com a cidade recortada ao fundo, tudo com um grão manhoso (digam ao senhor para por aquela iluminação branca que convenientemente sai do nada nestas ocasiões…), e sem querer transitámos para a narrativa principal do filme… tudo muito mal? Não, tudo muito bom, Michael Mann é um mestre e assina um dos melhores filmes do ano (o mais cool certamente…). Apesar do enredo algo frouxo não fazer jus à restante arte do filme, este por ser tão diferente e arrojado (e por cromice minha) fica para mim como o melhor de 2006.