Monday, February 20

“Match Point” de Woody Allen


O último filme de Woody Allen centra-se numa Londres aristocrática, a sociedade média a alta, com a sua habituais casas de campo, o desporto de caça, as viagens, o seu não sei quê de educação puramente britânica, as paisagens inebriantes da Inglaterra. A atmosfera instala-se e Woody Allen vai ainda mais longe do que um simples retrato social. Chris (Jonathan Rhys Meyers), é um ex-tenista professional irlandês, oriundo de uma família pobre, sendo o ténis uma forma de alcançar algo melhor, só que não corre tão bem e acaba por se instalar em Londres como professor de ténis num clube a pessoas com bastante dinheiro. E é aqui neste clube que conhece Tom, filho de um senhor abastado, que o encaminha para a “alta” sociedade, tornando-se um autêntico membro da família. Eis que Chris se vê no meio de luxos e habituado a coisas que a maioria das pessoas não imagina. O factor sorte é referido logo no início do filme e é chave para o desenvolvimento da história e do seu futuro, levando-nos a questionar o que é efectivamente o destino…Na altura que conhece Tom, conhece também a namorada deste, Nola (Scarlett Johansson), uma aspirante a actriz americana pela qual Chris sente-se rapidamente atraído e a irmã de Tom que desde logo se afeiçoa bastante a Chris… O tempo passa e Chris acaba por singrar a custo do seu casamento com a irmã de Tom, mas ao reencontrar Nola, algum tempo após esta se ter separado de Tom, tudo ressurge e eles estabelecem uma relação forte, fruto de uma intensa paixão.
O filme é genial em muitos aspectos, inclusive no final, que é pena não poder discutir por estragar todo o propósito do filme. Para começar a banda sonora, totalmente ópera, desde Verdi a Bizet, muito bem conseguida, pois nos momentos chave da história lá está a opera a dizer mais qualquer coisa em adição ao filme, enfatizando-o de uma forma extraordinária. E os pormenores…por exemplo, não é mero acaso que Chris a certo ponto lê Dostoiévski, nomeadamente “Crime e Castigo”.
Este filme marcou-me por várias razões, a primeira tem obviamente a ver com o final, a segunda é notoriamente a questão que para mim é fundamental no filme, o subir na vida à custa de outrem. Na minha opinião somos o que valemos e não porque imitamos alguém e nos colamos a essa (s) pessoa (s). Concordo que realmente o factor sorte é importante, mas o é igualmente, senão mais, o esforço que dedicamos em cada ponto das nossas vidas, quando pensamos que nada se resolve, mas mesmo assim vamos à luta. Daí que a hipocrisia, a superficialidade e os interesseiros/calculistas me sugerem repulsa, mas neste filme tanto é culpado o que dá como o que recebe. Talvez uma característica desta sociedade britânica que é caracterizada, podendo ser transposta para qualquer sociedade alta, é a falta de alguma humildade (não estou a falar de donativos como fachada) e estando perante alguém que lhe é inferior, em termos de condição social, não o respeitam, são pequenos detalhes aqui e acolá que os metem à margem e no entanto são os mesmos que os ajudam a subir. A mão que bate é a mão que os faz tornar espectros, imitando um estilo de vida só por pensarem que é melhor, destruindo a própria felicidade em prol da superficialidade.
O filme é totalmente aconselhável, as actuações parecem-me bem, mas para mim o mérito vai em grande parte à história e à forma como nos é apresentada.

1 comment:

Uruk Riot said...

Sem dúvida é um grande filme, que nos mostra com brutalidade, mas de forma muito inteligente, como a sorte pode incrivelmente suplantar o "hard work" demonstrando como a vida pode às vezes ser tremendamente injusta.
Ainda bem que os americanos não aceitaram o filme, acho que os diversos sotaques britânicos lhe deram um "je ne sais pas quai" de mágico.