Tuesday, November 21

“The Departed” de Martin Scorsese


Uma vez mais, à semelhança de “Gangs of New York”, Scorsese realiza um filme centrado num bairro governado pelo crime organizado irlandês, só que no Sul de Boston. Este bairro é governado por Frank Costello (Jack Nicholson), o chefe da máfia que a polícia tenta avidamente capturar. Com reviravoltas e esquemas à mistura Costello consegue ter na SIU (Unidade de investigação especial) Collin Sullivan (Matt Damon) como toupeira. Em contrapartida a polícia de Boston coloca William Costigan Jr (Leonardo DiCaprio), agente recém-formado, como agente infiltrado no gang, tirando assim partido do seu passado/ascendência. Enquanto que Sullivan consegue manipular a sua ascensão na carreira fazendo-se passar por bom polícia, Costigan passa o diabo para aparentar ser mau. E é este ser mau que por vezes falha, DiCaprio representa bem sim senhora mas há cenas em que custa a crer que o próprio Costello ache que ele é um bad boy. Este filme demonstra claramente a complexidade destas redes e da própria dicotomia polícia/criminoso, nem sempre muito clara. Entre a linguagem própria de Scorsese e baseando-se noutro filme – “Infiltrados” de Wai Keung Lau e Siu Fai Mak, ele consegue realizar um filme bom, Sullivan apresenta-se pouco carismático e pouco leal, Costigan atormentado mas determinado e Costello poderoso mas consciente. Entre os secundários temos outros actores: Alec Baldwin, Martin Sheen, Mark Whalberg e a actriz Vera Farmiga.
O único problema do filme e da maioria deste género é a falta de surpresa…que este só consegue parcialmente no final. As cenas de acção são muito cruas (não necessariamente mau) e para quem viu a cena final do Miami Vice, esta sabe honestamente a pouco. Jack Nicholson absorve completamente o ecrã ofuscando tudo e DiCaprio continua a ter infelizmente alguns tiques, mas parece-me no bom caminho. Não sou fã de Scorsese mas admito sem dúvida o seu calibre, é pena que este género esteja a desfalecer por falta de argumentos poderosos. Este até é bom mas falta-lhe qualquer coisa, prende o espectador e deixa-o expectante mas há qualquer coisa de dejá vu. Mas bom à mesma...por isso vejam.

Tuesday, November 7

Monday, November 6

“Children of Men” de Alfonso Cuarón

Ano 2027, o mundo é um caos e perece da incapacidade da espécie humana de se perpetuar. Não há futuro, logo não há esperança, nem para a humanidade nem para o planeta. No entanto, a Inglaterra ainda se mantém, quiçá por ser uma ilha, aprisionando e instigando a remoção de todo e qualquer emigrante, os quais são remetidos para campos de “concentração” sem o mínimo de humanidade. Clive Owen, Julianne Moore e Michael Caine integram o elenco deste filme, realizado pelo autor mexicano de filmes como “Great Expectation (1998)”, “Y tu mamá también (2001) e o mais recente “Harry Potter and the Prisoner of Azkaban (2004)”. O argumento é baseado no livro de P.D. James, com o título homónimo ao filme e escrito pelo próprio Cuarón. A trama toma curso quando Faron (Clive Owen), antigo activista é incumbida de levar a mãe da humanidade até a um barco na costa da Inglaterra, que a levará a ela e ao seu filho até aos Açores, onde está sedeado o Projecto Humano que visa a renovação da espécie.

A história não é nova… a infertilidade é um problema cada vez mais actual, mas nunca a tão grande escala. O que será necessário para que massivamente todas as mulheres deixem de ser férteis de um momento para o outro? Culpa-se a poluição, culpa-se as novas tecnologias, mas a verdade é que nada disso é bem explicado ao longo do filme. É natural que a infertilidade aumente…mas e os países de 3º mundo? Será viável? Não me parece…Demasiado cliché a ideia de que apenas um mulher poderá salvar a humanidade e que pouca coincidência, ela é negra e “estrangeira”, tal como provavelmente a nossa origem, quando o homem veio de África. Até Maria, a mãe de Cristo o foi. O filme tem o seu quê de violento, não só visualmente como psicologicamente. Apesar das guerras do século passado ainda estarem muito presentes e as guerras do presente serem fruto de grande exposição mediática, o certo é que ainda nos espantamos com a nossa “humanidade”, com a nossa pequenez e como a própria política rege sobre as dificuldades.
O filme é mediano porque não se foca na explicação mas na acção, demonstra bem o caos e expõe por comparação inevitável o problema dos refugiados e dos emigrantes (ora não fosse o autor mexicano) e ao mesmo tempo caí no erro de não aproveitar bem os seus actores. A situação parece por vezes tão irreal como por vezes a própria representação, provavelmente por falta de densidade das personagens.