Monday, February 27

“As intermitências da morte” de José Saramago

Anos após ser galardoado com o Nobel, eis que finalmente leio qualquer coisa dele e pois que começo pelo seu último livro, que é também bastante pequeno, o que é excelente tendo em conta que não sabia se haveria de gostar ou não da sua escrita. É que realmente Saramago suscita desde ódios a paixões... Após a meia-noite do dia 31 de Dezembro, os cidadãos do país em questão no livro, deixam simplesmente de morrer. Ninguém morre, muitos ficam entrevados, outros nem cá nem lá, mas o último suspiro deixa de existir. E o mais incrível é que fora das suas fronteiras, nos outros países isso não acontece. Para mim, o mote da história é bastante interessante, ninguém quer morrer, mas quais seriam as consequências disso acontecer, será que nos questionamos sobre isso? No início custou-me habituar à falta de pontos, ao seu modo de escrita, mas depois lá consegui ler e ler, e até mais ou menos a meio da história estava a achar engraçado o rumo. No entanto, lendo o livro inteiro fiquei desiludida, a história tinha pano para mangas e o autor reduziu a uma simplicidade no final, que a meu ver não se adequa com o início que lhe deu. O autor fez um retrato de um país, dos seus governantes, das consequências impostas e depois acaba por falar da morte como entidade e centra-se exclusivamente nela. Eu pessoalmente até gostei de ler o livro, pensava realmente que não me ia enquadrar no mundo de Saramago, foi efectivamente instrutivo, mas o final…parece-me desadequado.

“Brokeback Mountain” de Ang Lee


“Brokeback Mountain” é nada mais do que o filme que tanto fez furor e que levou para casa Golden Globes e que está nomeado até ao pescoço para os Óscares. Não tenho muito para contar, visto o filme ter sido mais que debatido, pois o tema suscita sempre todo e qualquer tipo de comentários. Brevemente posso dizer que se trata de uma história de amor entre dois homens, nos anos 60 e numa América do interior, em que há nitidamente um retrato da oposição da sociedade e da incapacidade dos homossexuais se assumirem perante o Mundo. E por isso a localização da história tem um papel relevante, é um local rural, pequeno, em que toda a gente conhece toda a gente, provavelmente se fosse numa cidade mais evoluída como NY, tudo seria diferente. Sou sincera e digo que pouco me apetece escrever, o filme não me marcou, não me comoveu, saí do cinema completamente insatisfeita. De certo modo esperava que a história fosse mais intensa, mais penetrante, que houvesse algo de novo, a única coisa efectiva é o facto de eles serem homossexuais e de existir um retrato totalmente discriminatório contra eles. Isto para mim parece-me pouco quando vemos tantos prémios e louvações…não digo que o filme não esteja bem realizado, que as interpretações até nem estejam más, até são relativamente boas. Contudo, não consigo deixar de pensar que o filme é apenas razoável.

Monday, February 20

“Match Point” de Woody Allen


O último filme de Woody Allen centra-se numa Londres aristocrática, a sociedade média a alta, com a sua habituais casas de campo, o desporto de caça, as viagens, o seu não sei quê de educação puramente britânica, as paisagens inebriantes da Inglaterra. A atmosfera instala-se e Woody Allen vai ainda mais longe do que um simples retrato social. Chris (Jonathan Rhys Meyers), é um ex-tenista professional irlandês, oriundo de uma família pobre, sendo o ténis uma forma de alcançar algo melhor, só que não corre tão bem e acaba por se instalar em Londres como professor de ténis num clube a pessoas com bastante dinheiro. E é aqui neste clube que conhece Tom, filho de um senhor abastado, que o encaminha para a “alta” sociedade, tornando-se um autêntico membro da família. Eis que Chris se vê no meio de luxos e habituado a coisas que a maioria das pessoas não imagina. O factor sorte é referido logo no início do filme e é chave para o desenvolvimento da história e do seu futuro, levando-nos a questionar o que é efectivamente o destino…Na altura que conhece Tom, conhece também a namorada deste, Nola (Scarlett Johansson), uma aspirante a actriz americana pela qual Chris sente-se rapidamente atraído e a irmã de Tom que desde logo se afeiçoa bastante a Chris… O tempo passa e Chris acaba por singrar a custo do seu casamento com a irmã de Tom, mas ao reencontrar Nola, algum tempo após esta se ter separado de Tom, tudo ressurge e eles estabelecem uma relação forte, fruto de uma intensa paixão.
O filme é genial em muitos aspectos, inclusive no final, que é pena não poder discutir por estragar todo o propósito do filme. Para começar a banda sonora, totalmente ópera, desde Verdi a Bizet, muito bem conseguida, pois nos momentos chave da história lá está a opera a dizer mais qualquer coisa em adição ao filme, enfatizando-o de uma forma extraordinária. E os pormenores…por exemplo, não é mero acaso que Chris a certo ponto lê Dostoiévski, nomeadamente “Crime e Castigo”.
Este filme marcou-me por várias razões, a primeira tem obviamente a ver com o final, a segunda é notoriamente a questão que para mim é fundamental no filme, o subir na vida à custa de outrem. Na minha opinião somos o que valemos e não porque imitamos alguém e nos colamos a essa (s) pessoa (s). Concordo que realmente o factor sorte é importante, mas o é igualmente, senão mais, o esforço que dedicamos em cada ponto das nossas vidas, quando pensamos que nada se resolve, mas mesmo assim vamos à luta. Daí que a hipocrisia, a superficialidade e os interesseiros/calculistas me sugerem repulsa, mas neste filme tanto é culpado o que dá como o que recebe. Talvez uma característica desta sociedade britânica que é caracterizada, podendo ser transposta para qualquer sociedade alta, é a falta de alguma humildade (não estou a falar de donativos como fachada) e estando perante alguém que lhe é inferior, em termos de condição social, não o respeitam, são pequenos detalhes aqui e acolá que os metem à margem e no entanto são os mesmos que os ajudam a subir. A mão que bate é a mão que os faz tornar espectros, imitando um estilo de vida só por pensarem que é melhor, destruindo a própria felicidade em prol da superficialidade.
O filme é totalmente aconselhável, as actuações parecem-me bem, mas para mim o mérito vai em grande parte à história e à forma como nos é apresentada.

“Corpse Bride” de Tim Burton

“A noiva cadáver” finalmente…após meses de inquietação e espera incessante, eis que vi esta fantástica animação. Victor, filho de noveaux riche e Victoria, filha de nobres sem um tostão no bolso são forçados a casarem pelo bem mútuo das duas famílias, reflecte uma situação bastante comum na sociedade do século XIX, no qual a história se passa. No entanto Tim Burton introduz-lhe obscuridade, não só pelo aspecto da cidade em si, mas a comparação entre o mundo dos vivos e dos mortos, em que apesar de tudo os mortos apresentam-se bastante mais alegres e os vivos demasiado presos a uma felicidade limitada e regida por interesses vários. Apesar do casamento arranjado, como tantos outros que aconteceram e não vai há assim tanto tempo Victor e Victoria criam laços, mais do que aqueles que esperavam…Mas eis que Victor por engano casa-se com a noiva cadáver (Emilly), uma infeliz que morrera de véu e grinalda morta pelo homem a quem amava e com quem fugira. Emilly pensa que finalmente encontrou o amor, mas Victor não consegue esquecer o que lhe foi retirado e tenta o recuperar.
Todo o mundo de Tim Burton é sempre fantástico, aliás como já estávamos habituados em “O estranho mundo de Jack”, todos os personagens têm o seu quê de especial e bem idealizados. Há sempre qualquer coisa de maravilhosa, ora as personagens ora o cenário ou mesmo a música. A banda sonora de Danny Elfman é graciosa, como já referi num post anterior muito ao estilo do autor, no entanto depois de ver o filme, vejo que o filme anterior de animação era mais musical, com uma música mais penetrante. De certa forma sou um pouco fã de Tim Burton, pois na maioria ele prima pelo imaginário muitas vezes estranho, por isso este filme não é excepção, contudo este seja um pouco light mas bom à mesma. É bom saber que ainda há filmes que passam a mensagem de que o amor é algo puro e altruísta, pois amar não é sufocar, é deixar viver e alegrarmo-nos por isso.

Parabéns a mim!!!

Pois é...o blog fez anos ontem...já vai um ano, o tempo passa efectivamente a voar!
Só é pena que os seus progenitores estejam bastante ausentes...
Espero sinceramente que o blog cresça com maturidade...
Ah e é claro um obrigado a todos que lêm e comentam!

Thursday, February 2

“Jonathan Strange & Mr. Norrell” de Susanna Clarke



Meados do séc. XIX, eis que a magia volta a Inglaterra!
Há séculos que a magia era predominante na Inglaterra, tudo graças ao Rei Corvo, que fora criado no meio de elfos, mas ele desaparecera e embora existissem inúmeros magos teóricos em Inglaterra, nenhum praticava realmente o acto mágico. A reviravolta acontece devido a Mr. Norrell, um senhor já com uma certa idade e enclausurado nos seus preciosos livros de magia, sendo estes os mentores da sua magia. Norrell (poder-se-á dizer um Mr Scrooge da magia) decide voltar a instaurar a magia em Inglaterra e esforça-se por o fazer, mas sozinho, sem rivais, para que as suas ideias sejam as universais. Na verdade, todo o país sofre transformações com a chegada de Norrell a Londres, pois a magia começa a tomar poder de tudo e mais ainda quando Jonathan Strange decide ser mágico. Este, é bastante mais intuitivo, deveras distraído e principalmente menos enfadonho do que Norrell e torna-se aluno deste último, diferenças entre eles são grandes no entanto há a magia a os unir.
Num livro puramente mágico da primeira à última folha, é nos contada a história de uma Inglaterra reminiscente de um reinado de um mago excelente e poderoso de nome John Uskglass, que se tornara rei da parte meridional da Inglaterra. Este rei desaparecera, a magia adormecera até aparecerem Norrell e Strange, ambos controversos para uma Inglaterra pouco já habituada à magia, mais habituada a que esta fosse apenas um mito, um passado perdido. Em tempo de guerra contra os Franceses, pois este livro está enquadrado perfeitamente na história e na época que é desenvolvida, acrescentando-lhe a pimenta, ou o chantilly se preferirmos algo mais adocicado, pela introdução de magos e elfos, estes bastante diferentes dos belos, angélicos, sensatos e distintos, a que estamos habituados em literatura do género de Tolkien.
É sem dúvida uma história extremamente interessante, que prende não só pela beleza, de como é contada a história, mas pelos seus pormenores, faz-nos sentir como se estivéssemos na Inglaterra no séc. XIX a viver a história durante todas as 733 páginas do livro. Este género fantástico é bastante ao meu género, sem dúvida que me fascinou imenso, fez-me sonhar, viver e imaginar, tudo aliado a uma época de que gosto particularmente. Um muito obrigado a quem mo deu, melhor não podia ser! Só dá é vontade de o ler novamente mas em inglês...
Será que o fim pressagia uma continuação? Ou será que a autora nos deu o privilégio de o continuar na nossa mente?


Para saber mais http://www.jonathanstrange.com/ !
valem bem a pena :)